Com o risco de desabastecimento de fertilizante, por conta do conflito no leste europeu, o governo brasileiro decidiu acelerar o lançamento de seu Plano Nacional de Fertilizante, que sairá num decreto de Jair Bolsonaro até o final desse mês.
Esse plano vem sendo elaborado por um Grupo de Trabalho desde o ano passado e busca criar uma política para esse setor, muito dependente de importação. Hoje, 80% do fertilizante aplicado no campo, no Brasil, é importado.
O plano irá traçar objetivos a curto, médio e longo prazo, para serem adotados até 2050.
Uma ação imediata será realizada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), vinculado ao Ministério da Agricultura, como forma de minimizar os problemas de dificuldade de plantio para os agricultores brasileiros, com a crise de fertilizante que se avizinha. A empresa organiza a “Caravana Embrapa”, que terá início em abril e terá a duração de um ano, e que levará ao campo técnicos e pesquisadores que irão ensinar técnicas de melhor aproveitamento desses produtos hoje no campo.
A “Caravana Embrapa” irá apresentar aos produtores, em dinâmicas de campo, melhor aproveitamento do fertilizante e qual a melhor maneira de se aplicar, o melhor momento e equipamento mais adequado. E também alternativas de produtos orgânicos e naturais.
“É algo para o pequeno e o grande agricultor. Acreditamos que nesse espaço de tempo, de um ano, alcancemos uma economia para o produtor brasileiro entre US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) a US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões). O Brasil consome US$ 16 bilhões (R$ 80 bilhões) por ano com fertilizante” – afirmou o pesquisador José Carlos Polidoro, da Embrapa Solos, no Rio, ao Blog do Noblat. Ele faz parte do grupo que integra esse projeto.
Um dos problemas dos agricultores é o mau aproveitamento dos fertilizantes. Polidoro explicou que 40% de todo fertilizante aplicado por um produtor é desperdiçado: é perdido no meio ambiente, vai embora na chuva, no ar ou retido no subsolo. O propósito com a caravana é aumentar e esse aproveitamento de fato para 60% a 70%.
“Com a tonelada do fertilizante custando entre US$ 700 (R$ 3,5 mil) a US$ 800 (R$ 4 mil) não se pode desperdiçar 40%. Não vamos fazer milagre de um aproveitamento de 100%, mas podemos elevar para algo em torno de 60% a 70%. Significa que o produtor vai poder usar menos fertilizante por hectare ou usar a mesma quantidade, mas produzir mais, o que é mais interessante. E irá diminuir o custo do fertilizante no custo da produção” – explicou Polidoro ao blog.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizante no mundo. Consome 8,5% da produção total mundial, que chega a 44 milhões de toneladas anualmente.
“O Brasil, infelizmente, não teve uma estratégia, uma política nacional nos últimos vinte anos. Por isso, a gente saltou de uma importação de 20%, na década de 90 para esses 85%, consumidos em 2020” – afirmou o pesquisador.
“Essa dependência externa em fertilizante é muito perigosa. É uma questão de segurança nacional e de segurança alimentar. Com essa crise mundial, é preciso ter uma política própria. Sem fertilizante, o Brasil não produz, compromete sua produção agrícola” – completou.
A criação desse Grupo de Trabalho teve início no final de 2020, após uma reunião na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), vinculada à Presidência da República, com a participação do ministro Flávio Rocha. Participam representantes do governo, do setor rural e da indústria. Ao todo, cerca de 500 representantes de diversos setores participam dessa discussão. Foi discutida a necessidade de o Brasil ter uma política estratégica de fertilizante, sob riscos para o país.