Como ser imparcial quando um país invade o outro sem ser atacado?Blog do Noblat

Cobra-se imparcialidade dos jornalistas. Em certos momentos, como é possível? Quando um país viola a soberania do outro, por exemplo, como não ter lado? Se o Brasil fosse invadido, eu conseguiria ser neutro? Se ele fosse o invasor, também não seria neutro. Dos jornalistas, cobre-se honestidade no relato dos fatos.

Quem começou a guerra? A Rússia. Dizer o contrário seria desonestidade. Quem bombardeia cidades ucranianas e aos poucos fecha o cerco sobre a capital, Kiev? A Rússia. Há provas de que o judeu presidente da Ucrânia seja neonazista? A Rússia não apresentou nenhuma até agora.

Acabou o que restava de liberdade de imprensa na Rússia. A câmara baixa do Parlamento aprovou, ontem, por unanimidade uma lei punindo com 15 anos de prisão quaisquer ações destinadas a “desacreditar” as forças armadas russas durante a guerra na Ucrânia. Por ações que desacreditem, entenda-se qualquer crítica.

A imprensa russa está proibida de usar as expressões “guerra”, “invasão” e “massacre”. Ela deve chamar a invasão de “operação especial” destinada a proteger o país da ameaça que a Ucrânia representa. Mais de 10 mil russos em 9 dias de guerra foram presos por protestar contra a guerra ou invasão. São fatos.

O governo russo bloqueou o acesso ao Facebook. A CNN parou de ir ao ar na Rússia. A BBC de Londres e a agência Bloomberg News suspenderam as reportagens que por lá faziam. Mais de 1,2 milhão de pessoas já fugiram da guerra na Ucrânia, diz a ONU. O cessar-fogo decretado hoje pela Rússia é para que mais gente possa fugir.

Fatos são fatos. Mas se a internet dá voz a todos que queiram se manifestar sobre eles, por que os jornalistas não devem se manifestar? A última guerra travada entre o bem e o mal foi a Segunda Guerra Mundial, e mesmo assim os mocinhos, muitas vezes, agiram como bandidos.