O deputado Arthur do Val (PODEMOS-SP), vulgo Mamãe Falei, tornou-se um vírus mais letal do que a Covid-19. Todos fogem dele – de Sérgio Moro, candidato do partido a presidente, ao pessoal do Movimento Brasil Livre (MBL) que o apoiava.
Do Val é a prova viva da força do acaso na política, e também fora dela. No rastro de uma guerra inesperada, aspirante a candidato ao governo de São Paulo, do Val achou que ganharia pontos nas pesquisas eleitorais indo à Ucrânia socorrer os refugiados.
Arrecadou 180 mil reais; viajou na companhia de um amigo, segundo ele, especialista em turismo sexual; encantou-se com a beleza das ucranianas; e, de lá, mandou mensagens pelo Whats-App dizendo o que faria com uma delas se a levasse para a cama.
As mensagens vazaram antes de sua volta ao Brasil; a namorada apressou-se a cortar relações com ele; o mundo, merecidamente, desabou sobre sua cabeça. do Val renunciou à sua candidatura ao governo; desligou-se do PODEMOS; e saiu enxotado MBL.
Não bastou. Não basta. A cassação do seu mandato foi pedida por 27 dos seus colegas da Assembleia Legislativa de São Paulo e poderá ser aprovada. É possível que do Val já tenha pensado: porque viajei à Ucrânia? Por que não fiquei quietinho por aqui?
Deveria pensar por que ele é o que se revelou – um machista empedernido, que enxerga as mulheres, principalmente as mais pobres, como objetos para seu gozo; incapaz de se comover diante do sofrimento alheio; um ser que quer tirar vantagens de tudo.
Ah, o acaso… Quem imaginou que eleito presidente da República em 1960 com uma votação estupenda, Jânio Quadros renunciaria ao cargo depois de 6 meses? Ou que Fernando Henrique em 1994, sem votos para se eleger deputado, se elegeria presidente?
Jânio renunciou para voltar mais forte nos braços do povo, e com um Congresso sujeito às suas vontades – deu errado. O Plano Real, que baixou a inflação, elegeu e reelegeu Fernando Henrique para desgosto de Lula, duas vezes vencido por ele no primeiro turno.
A filósofa alemã Hannah Arendt, uma das teóricas políticas mais influentes do século XX, ensinou que não se deve subestimar a força do acaso. É por isso que a História só pode ser escrita depois que ela termina. Moro não deve ter lido Arendt.
Com a desgraça de do Val, Moro perdeu o único palanque mais ou menos forte que teria no maior colégio eleitoral do país. É um sem teto, ou melhor: um sem palanque. De pouco adiantarão os 7 ou 8 pontos que o puseram em terceiro lugar nas pesquisas.
Moro e João Doria, candidato do PSDB a presidente, tiveram uma exposição gigantesca na televisão e nas redes nos últimos dois anos – um como ministro e ex-ministro da Justiça, o outro como governador de São Paulo e pioneiro na vacinação contra a Covid.
Nem por isso conseguiram emplacar até aqui como candidato nem Lula, nem Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) é o único que ainda pode vir com a conversa de que crescerá a partir do momento em que tiver acesso amplo à televisão e ao rádio. A conferir.