"Menos flores e mais apoio à luta das mulheres", diz juíza Michelini Jatobá sobre o Dia Internacional da MulherClickPB

A Juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá, do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), em entrevista ao ClickPB, neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, lamentou que ainda exista um clima de romantização da data, e considerou como sendo oportuna, a reflexão acerca do machismo estrutural que tanto afeta as mulheres nas relações no ambiente de trabalho, familiar e amoroso. 

Confira a entrevista e a opinião dessa magistrada que influencia tantas outras mulheres com sua jornada de sucesso e destaque, em um dos ambientes de trabalho que ainda é, predominantemente, masculino no país. 

Quais os principais desafios que a juíza mulher enfrenta no dia a dia? 

– Os mesmos desafios de outras mulheres:– trabalham, coordenam casa, filhos, cuidados com os pais  –  muitas vezes sozinhas- , por exemplo, e dão conta do recado. Como muitas mulheres brasileiras (a maioria da população), ela assume tripla jornada, cuidado de casa, dos filhos.

A senhora acredita que hoje as mulheres estão cada vez mais ocupando espaços importantes como o Judiciário paraibano, por exemplo?

– Segundo uma pesquisa da Associação dos Magistrados Brasileiros, de 2019, mulheres representavam apenas 35% dos juízes de 1º e 2º grau no país. Em nosso Tribunal, a realidade não é diferente, os homens ainda são maioria.

Na sua perspectiva, o que ainda precisa avançar para que as mulheres possam estar ocupando cargos importantes, igualdade de direitos e oportunidades?

– Numa perspectiva histórica de tudo quanto fora conquistado desde que as mulheres ganharam, em 1962, o simples direito de trabalhar fora de casa e, em 1974, o de possuir um cartão de crédito sem autorização do marido, vê-se que muito mudou. Parece inacreditável que nossas avós não tinham o direito de escolher seu trabalho sem permissão de um marido ou de um pai. É um caminho que ainda está sendo aberto, sendo necessário e atual um debate e uma reflexão sobre os direitos das mulheres, pois a igualdade de gênero, assegurada na Constituição, ainda não é uma realidade em nosso país. 

Hoje, o que o dia representa? Avançamos muito no direito à mulher? O que podemos esperar para o futuro?

– O dia 8 de março é alusivo à luta pela emancipação feminina. É uma data para reflexão e possui um conteúdo político, apesar de uma certa romantização da data, com distribuição de rosas, etc. Melhor fariam os homens, em lugar de oferecer botões de rosa, que se juntassem conscientemente à luta pela equalização de salários para o mesmo trabalho, que procurassem refletir sobre o machismo estrutural que ainda permeia a nossa sociedade e que só faz mal para todos, inclusive os próprios homens – causa assédios, menosprezo da capacidade feminina, violência em relacionamentos afetivos e relações sociais e outros malefícios. O Dia Internacional da Mulher é dia de reflexão e de luta; tem pouco a ver com rosas, mas sim, com espinhos.