Foi um escândalo quando uma apresentação de “Romeu e Julieta” pelo Balé Bolshoi, de Moscou, transmitida em 1976 para a televisão de 112 países, foi proibida no Brasil durante o governo do terceiro general presidente da ditadura militar de 64, Ernesto Geisel.
O ministro da Justiça, à época, era Armando Falcão, famoso por fugir a perguntas incômodas com a resposta: “Nada a declarar”. Geisel foi o pai da abertura lenta e gradual do regime que conviveria com a tortura e a morte de presos por muitos anos.
A ditadura acabou quando Tancredo Neves (MDB) se elegeu para suceder o general presidente João Batista de Figueiredo, mas quem tomou posse foi seu vice, José Sarney (PFL), porque ele foi operado sete vezes de um tumor no intestino e morreu.
O último caso de censura oficial a uma obra de arte ocorreu em 1986, no governo Sarney. O então ministro da Justiça, Fernando Lyra, a pedido da Igreja, proibiu a exibição do filme “Je Vous Salue Marie”, do diretor francês Jean-Luc Godard.
Lyra perdeu o ministério naquele ano, mas não por causa da censura ao filme. Meses antes, ao anunciar em cerimônia no Teatro Casa Grande, no Rio, o fim da censura, ele cunhou sua frase mais famosa: “Sarney é a vanguarda do atraso”.
Tudo que fosse de origem russa, enquanto os militares mandavam no Brasil, era considerado comunista, e por isso não poderia ser tolerado. Comunista comia criancinha, era o que se dizia; e o ouro de Moscou não parava de financiar a subversão.
O que houve para que os militares agora, 8 mil deles empregados no governo, apoiem a política de Bolsonaro de aproximação com a Rússia de Vladimir Putin? O comunismo por lá não desapareceu completamente. Embora fraco, o Partido Comunista russo é legal.
Os militares brasileiros ainda aprendem que o comunismo é uma erva daninha que pode fazer muito mal à democracia que eles sempre disseram defender até quando a esmagaram. Putin, porém, não é comunista, é um nacionalista fanático e religioso.
E nele, os militares e Bolsonaro podem confiar. E com ele podem aprender como se aperfeiçoa um regime autoritário travestido de regime democrático. Não só com Putin, mas também com uma nova e promissora geração de governantes autocráticos europeus.
Portanto, não é sobre fertilizantes e outros produtos russos que interessam ao Brasil, mas como não perder o poder.