A Guerra da Ucrânia: um erro de cálculo (por Ricardo Guedes)Blog do Noblat

Adam Przeworski conceituou erro em Ciências Sociais como uma relação tripartite entre os objetivos a serem alcançados, as decisões tomadas, e as condições externas que propiciam ou não o atingimento destes objetivos. Na Teoria dos Jogos, os jogos entre três atores são sempre de difícil solução, posto que quando dois lados se acertam o terceiro diverge, gerando desequilíbrio quase contínuo difícil de se acertar. A Guerra da Ucrânia decorre de um erro de cálculo da Russia e dos Estados Unidos, com a Ucrânia no meio.

A Guerra da Ucrânia é fundamentalmente geopolítica entre dois lados que se antagonizam por poderio militar e econômico, nesta ordem. O ponto crítico é a instalação de misseis nucleares pela OTAN nas fronteiras da Russia, inadmissível pela posição Russa, assim como a instalação de mísseis nucleares em Cuba em 1962 foi inadmissível pela posição Norte-Americana.

Informações e posições corretas em jogos de guerra geram a otimização de resultados e soluções, o oposto na presença de informações e posições equivocadas. Sun Tzu em A Arte da Guerra diz que se você não conhece a si próprio e nem ao inimigo, você deverá temer o resultado de cada batalha; se você conhece a si próprio, mas não ao inimigo, você deverá temer o resultado de parte das batalhas; mas se você conhece a si próprio e também ao inimigo, você não deve temer o resultado das batalhas, você saberá ganhar ou recuar no ponto certo. No caso da Guerra da Ucrânia, tudo indica que os lados não se conhecem, gerando a espiral do conflito em um mar de desinformação e cálculos errados por todas as partes.

A economia da Ucrânia é relativamente pequena para um choque destas proporções. O PIB da Ucrânia é de USD 153 bilhões com renda per capita de USD 3.500,00 anuais. A renda per capita média mundial é de USD 11.300,00, Estados Unidos USD 63.000,00, Europa Ocidental USD 46.900,00, Russia USD 11.600,00. A expectativa da Ucrânia entrar para a OTAN tacitamente respaldada pelos Estados Unidos e a União Europeia gerou a decisão Russa antecipada da invasão. A Ucrânia está hoje jogada à sua própria sorte. Quanto custará e quem financiará a recuperação da Ucrânia no pós-guerra?

As sanções recíprocas crescem de forma espiral levando à beira do perigo nuclear, por erro ou incidente. Mas a médio e longo prazo o mercado supera as irracionalidades políticas na busca de soluções. Faltam hoje líderes e estadistas no mundo que pudessem ter evitado a guerra com a solução antecipada da não entrada da Ucrânia na OTAN. Angela Merkel, se assim ainda estivesse na liderança institucional da Alemanha, principal país da Europa, talvez pudesse ter gerado um output diferente. Talvez. A saída desta crise será necessariamente diplomática, por negociação dentro dos limites hoje possíveis, retroagindo paulatinamente as sanções para o equilíbrio da economia mundial.

 

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus