Há duas guerras em curso no mundo. Uma, militar, da Rússia contra a Ucrânia. A outra, econômica, dos Estados Unidos e dos seus maiores aliados contra a Rússia e em resposta à invasão.
O mundo observa a primeira à distância. Caso se envolvesse, estariam dadas as condições para que eclodisse a Terceira Guerra Mundial, a última devido ao uso quase certo de armas nucleares.
O Brasil está no meio disso. Condenou a Rússia porque foi ela que começou a guerra; pediu o fim imediato do conflito; mas nem que quisesse poderia se meter nele. Não tem armas para isso.
Evita aderir às sanções econômicas contra a Rússia porque teria mais a perder do que a ganhar. Os russos ficarão sem ver nossas novelas por iniciativa da Rede Globo, não do governo.
Nem assim o país tem como escapar aos efeitos da guerra econômica. O preço do petróleo que compra disparou. E, aqui, a Petrobras anunciou mais um reajuste dos preços dos combustíveis.
A gasolina ficará 18,8% mais cara; o óleo diesel, 24,9%; e o gás de cozinha, 16,1% nas refinarias. Mais inflação, menos dinheiro do bolso das pessoas em um país com 19 milhões de famintos.
Menos dinheiro para comer e pagar as contas, mais irritação na hora em que as pessoas forem votar daqui a 7 meses. Pior para quem está no governo e não tem o que fazer. Se tinha, não fez.
A história da maioria das eleições por toda parte é quase sempre a mesma: se as pessoas acharem que sua vida melhorou, o governo ganha; se acharem o contrário, o governo perde.
Bolsonaro não pode ser culpado pela guerra, embora sem nenhuma necessidade, às vésperas de ela ter início, tenha visitado Vladimir Putin em Moscou para prestar solidariedade à Rússia.
Alega tê-lo feito porque o Brasil depende dos fertilizantes russos para alimentar o agronegócio. Depende pouco. E Putin, apesar de cortejado, suspendeu a exportação de fertilizantes.
Bolsonaro também não pode ser culpado pela pandemia que surgiu na China e espalhou-se pelo mundo. Mas pode ser em parte porque se negou a combatê-la, concedendo passe livre ao vírus.
O dono da caneta mais carregada de tinta, que dizia “eu mando, pronto, acabou”, reagiu ao aumento do preço dos combustíveis pela Petrobras admitindo que não “decide nada, não”.
Acrescentou: “Lamento”. E, para variar, jogou a culpa no PT, repetindo uma fala que lhe sopraram e ele decorou:
“O grande problema do Brasil: entre as 10 maiores economias, a única que tem que importar derivado de petróleo é o Brasil. Ou seja, as duas refinarias que o PT ia fazer no Nordeste, mais uma aqui no Sudeste, não fizeram. Uma roubalheira terrível”.
“Mais de 100 bilhões jogados fora. Então, nós dependemos da importação de diesel, de gasolina, dentre outras coisas. Se lá atrás o PT tivesse feito o seu trabalho, não tivesse endividado a Petrobras, não estaríamos em uma situação tão complicada.”
Ouviu como resposta de Lula:
“A Petrobras era exportadora de gasolina. Eles destruíram a Petrobras e hoje tem 410 empresas importando o preço da gasolina, e nós pagando o preço em dólar. Se nós somos autossuficientes com o pré-sal, qual é a explicação?”
“A não ser a submissão da soberania brasileira aos interesses daqueles que destruíram a Petrobras, que venderam os gasodutos que construímos, que venderam a BR e que querem privatizar os Correios, o Banco do Brasil e a Eletrobrás?”
O presidente Joe Biden, que nas eleições de meio do mandato, em novembro, poderá dar-se mal, culpa a guerra pela inflação que atingiu no seu país o nível mais alto dos últimos 40 anos.
“Haverá custos internos porque impomos sanções incapacitantes em resposta à guerra de escolha de Putin”, disse Biden, ontem. Os americanos darão razão a Biden?
Para economistas americanos, os preços subiram principalmente porque a forte demanda, estimulada em parte pelos gastos do governo, superou a oferta interrompida pela pandemia.