Novo volume de obras completas de Bioy Casares traz a busca por um amor perdido no BrasilLauro jardim

Bioy Casares com a filha, Marta | Divulgação / Agência O Globo

  Chega às livrarias nos próximos dias o terceiro e último volume das “Obras completas de Adolfo Bioy Casares” (Biblioteca Azul/Globo Livros).

A coleção completa soma 2,5 mil páginas de material e é organizada por Daniel Martino, o principal pesquisador da obra do argentino no mundo.

Este livro reúne os textos escritos entre 1972 e 1999, ano da morte do escritor, e inclui romances, contos e textos diversos.

Constam também as anotações de diários do período em que esteve no Brasil em 1960 (para, entre outras coisas, tentar se encontrar com Ofélia, um amor perdido que ele conhecera em Paris) e o registro de suas impressões de seus encontros com personalidades como Alberto Moravia, Graham Greene e Cecília Meireles.  

O motivo formal da visita de Bioy Casares ao Brasil foi o convite para participar de um congresso do Pen Club. Mas sabe-se que essa foi uma espécie de desculpa para encontrar Ofélia, a quem conhecera em Paris. Ela havia deixado apenas um endereço do Rio de Janeiro. Os encontros com Ofélia ocupam 30 páginas do livro.

Eis alguns trechos do livro:

*(Aqui o escritor fala de algumas de suas impressões sobre o Brasil, onde esteve em 1960 no Rio de Janeiro, convidado pelo Pen Club; Brasília; e São Paulo)  “Eu diria que neste país há pujança em tudo. As pessoas, os prédios de apartamentos, os túneis crescem e se multiplicam de um modo avassalador para um portenho cansado. Devo também rever minhas ideias sobre o calor. Eu achava que era deprimente. Que nada. Isto aqui é uma fogueira, ou quem sabe uma fornalha, onde o brasileiro cresce, corre, grita, produz, reproduz, com espantosa celeridade e bastante alegria. Outro ponto: os brasileiros resolveram — caberia saber quando, ou se herdaram esse pendor dos seus pais portugueses — apostar nas semelhanças e não nas diferenças. Veem o horizonte repleto de navios transbordando de alemães, libaneses, japoneses espremidos e gritam “Bem-vindos!”, abrem os braços, consideram-nos bonitos, parecidos com eles. Com a mesma espontaneidade, nós argentinos apostamos nas diferenças e, cerrando os punhos, grunhimos: “Estrangeiros de merda!”

*”Com Graham Greene converso, mas, como ele é o literary lion, os brasileiros não o deixam em paz. “Sabe que seus livros têm muita aceitação, e até difusão, entre nós?” “O que me diz, mestre, da frase do seu colega Dostoiévski?”

*”Depois, enquanto escrevo este diário, como direi?, acontece, ocorre, ao alcance dos meus ouvidos,uma intervenção literária de Cecília Meireles, doce como calda de caramelo.Almoço sozinho, com vista para a baía, no décimo primeiro andar da Melblas. Constato que começo a me sentir mais confiante: quando me trazem um bife
com molho, não o aceito. Saio e começo a percorrer as ruas, agora à procura
de um cartão-postal da Biblioteca Nacional daqui, para enviar a Borges.”