PM relata “caçada” a Lázaro Barbosa: “Deus me entregou ele em sonho”Blog do Noblat

O tenente-coronel Edson Melo, da Polícia Militar de Goiás, decidiu contar no livro “Contagem regressiva” a ação da força-tarefa que comandou no que chamou de “a trajetória da caçada a Lázaro Barbosa”, um criminoso que foi perseguido por vinte dias pela polícia após cometer uma chacina no Distrito Federal, em junho de 2021. Um caso rumoroso.

No livro, de 120 páginas, o militar conta sob sua perspectiva como foram aqueles dias, como entrou na historia já que tinha outra função na PM do estado: era o responsável pela segurança do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), vinculado à Secretaria da Casa Militar de Goiás. Ele relata que pediu autorização a Caiado, a quem define como um governador “ladeado com a tropa”.  Um governador “pró-polícia”.

O autor do livro, ataca a imprensa – “que falou merda” – critica os defensores dos direitos humanos – “que nos acusaram de uso de força desproporcional” – e  acredita que ele e seu grupo saíram como “heróis”.

“O clima na cidade (Cocalzinho, em Goiás) era de final de Copa do Mundo” – se referindo à celebração na cidade goiana após o anúncio da morte do criminoso.

Ele dá detalhes da “caçada” a Lázaro, uma operação que mobilizou 300 homens. Conta que dos 125 tiros disparados contra Lázaro, 68 atingiram o maníaco .

O autor do prefácio é o deputado federal Capitão Derrite (PP-SP), um bolsonarista que já foi da Rota e posta com frequência ações da polícia. O parlamentar o apresenta como “um dos heróis que trocou tiros com o criminoso Lázaro”.

Em entrevista recente a um podcast com conteúdo policial da internet, ancorado pelo apresentador Danilo Snider (sarcástico, em inglês) o policial foi apresentado como o “maluco que matou Lázaro”. Falou longamente sobre o episódio. O inquérito está sob sigilo de cinco anos.

Ele atuou na Rotam de Goiás – se intitula um “rotamzeiro” – e é piloto de helicóptero. Com 39 anos, é faixa preta de jiu-jitsu, entrou aos 27 anos na polícia e já foi agente prisional.

Na divulgação de seu livro, Melo cunha uma frase, que resume porque sua equipe encurralou o bandido.

“O fim de Lázaro terminou quando Deus me entregou ele em sonho”.

O militar, que incialmente estava fora da ação de busca de Lázaro, conta que se incomodava, desconfortável,  com o passar dos dias e a falta de resultado. Afirmou que as pessoas cobravam a presença dele na ação.

“As pessoas me paravam nas ruas, me perguntavam: ‘e ai, não vai? (atrás de Lázaro). Aquela angústia, a mídia batendo. O Tik Tok bombando dizendo que seria preciso chamar o McGyver (famoso agente de uma série americana). Nossa polícia estava exposta a nível nacional.  Tínhamos equipamentos, óculos de visão noturna, todo o aparato de guerra para pegar esse indivíduo”.

E segue:

“Fui até o governador e pedi permissão para ir para a operação. Abriu mão da segurança dele e fomos. Na aeronave do governador”.

Melo contou que o incomodava também o perseguido se exibindo em redes sociais, o noticiário dos telejornais. fez sobrevoo e achou um ponto para infiltrar na mata. Com uma equipe de nove policiais.

“Ele utilizava muito rio para a fuga, ia para o morro. Era um conhecedor da região. Tinha conhecimento de caça. Atirava com as duas mãos. Se tratava de um psicopata que matou uma família inteira e fez outra de refém. Infiltramos”

Atrás das pegadas e rastreando passos na beira dos rios e nas matas. Desconfiou que Lázaro dava uma passada e seguia para outro lugar, para ludibriar os policiais. Quando percebia a polícia, mudava de lugar e ia para um ponto de observação.

“Esse cara tem pacto com o capeta, diziam as pessoas. Se enfocava esse lado do satanismo dele”.

Diz que chegou a Lázaro numa leitura própria que fez do jogo e divergente de seus colegas.
“Esse cara não está para cá, mas para lá. Fui questionado pela minha equipe. Uma outra equipe com oito viaturas passou para outro lado. Fui questionado ‘se todo mundo está indo para lá, por que estamos indo para cá?’ O helicóptero moendo para outro lado”.

Quando viu um vulto, que era Lázaro comentou sobre seu modus operandi de verbalizar que ia atirar e cumprir.

“Se ele fizer isso com a gente, vamos passar por cima do nosso modo operacional padrão, procurar abrigo e responder a justa agressão. Isso porque esse cara está causando um caos, um nível de indignação no nível institucional, a minha polícia não merece o que está acontecendo”.

Lázaro teria se entretido com uma aeronave e começaram os disparos.

“Só ouvia o besouro voador no ouvido, o disparo. Não o via. Abriu o leque e fomos para cima efetuando disparos. Em algum momento a cadência mudou. Armamento era outro e avançando e efetuamos tiros de 9 milímetros e 556. Avançamos e percebemos que ele estava com duas armas, caído”.

“Aquele sujeito causou muito mal, fez muita coisa ruim. O PM não se empolga em tirar a vida de ninguém. Nâo somos inimigos de ninguém. Saímos para trabalhar e cumprir a lei. Somos vocacionados. Tivemos os louros, os cinco que confrontaram”.