“Pouca gente sabe” conta a microbiologista e pesquisadora da USP Natália Pasternak, nos idos de 1920, houve uma quarta onda da gripe espanhola, causando tantas mortes como nas ondas anteriores. Pasternak não é alarmista. É cientista, e pede cautela.
A pressa para tirar as máscaras mostra a despreocupação do brasileiro que custou a entender a gravidade da situação. Foram 655 mil vidas perdidas para a pandemia, e ainda temos 15,4% da população sem uma única dose da vacina, e 25% sem a segunda.
Há um frisson. Uma ilusão. Os relaxados (folgados?) acham que voltaremos a ser felizes só pelo fato de andar com o rosto livre, sem máscara? Pior, e os interesses escusos por parte dos governantes? O prefeito do Rio não abre mão do carnaval em abril, nem para evitar a enésima onda.
Eduardo Paes decretou o fim da obrigatoriedade do uso da máscara em lugares abertos e fechados. Liberou geral para cariocas que já andavam sem … ou com a máscara pendurada no queixo. A decisão pode ter sido precipitada, diz Pasternak. Além da vacina, só a máscara está nos protegendo.
Nenhum governo investiu no pós pandemia. Nenhuma medida de proteção, além de vacina e máscara, foi tomada pelo prefeito Paes, por exemplo, ou pelo governador Cláudio Castro, ansiosos pela grana que entra com o turismo, e com as eleições de outubro.
O transporte público no Rio de Janeiro massacra a população há anos. Usuários são obrigados a viajar colados uns aos outros. Janelas não abrem, ar condicionado não funciona. Nessa agonia, nem as máscaras protegem pra valer. Imagine sem.
O Rio é a cidade brasileira onde o cidadão mais perde tempo no transporte público. O levantamento foi feito a partir de dados do aplicativo Moovit. Milhões de viagens desde 2019, em 99 grandes cidades, de 25 países. Da mesma forma, nada foi feito no Rio para melhorar a ventilação nas escolas municipais ou estaduais. Ou ambientes de trabalho.
O pós pandemia não existe para os governantes. É vida que segue e ponto. Não será a cara limpa que nos trará equilíbrio de novo. Não basta querer. Depois da fase mais cruel da pandemia, veio a guerra. Como estar no prumo, com Biden, Putin, e Jens Stoltenberg, bombardeando o mundo?
Mortes e destruição.
No Brasil, carestia, fome e desemprego. Nem governo temos capaz de combater tanta desgraça. Aqui e lá fora. Sem máscaras, sem proteção, sem investimento no pós pandemia. Sem planos.
De novo, daqui por diante, será cada um por si.
PS: junto com a camisinha, na bolsa, leve também uma máscara. Pode ser útil, ensina Natália Pasternak.
Mirian Guaraciaba é jornalista