A privatização da Petrobras deve ser um dos temas da eleição deste ano. Haverá argumentos favoráveis e contrários à ideia. Jair Bolsonaro (foto) já deixou clara sua opinião: a empresa poderia ser vendida imediatamente. Não porque isso atende aos interesses do Brasil, mas porque Bolsonaro está cansado de cobranças sobre o preço dos combustíveis. “Para mim, é uma empresa que poderia ser privatizada hoje”, disse hoje o nosso antipresidente. “Eu ficaria livre desse problema.”
Alguém dirá que foi somente um desabafo. Não foi. O primeiro instinto de Bolsonaro é sempre fugir para a praia, transferir a culpa a algum desafeto, e delegar a terceiros a tarefa de encontrar soluções. Parte disso é preguiça, parte é falta de repertório para discutir questões que demandam soluções concretas do governo, e não apenas lero-lero ideológico. Bolsonaro passou três décadas no Congresso sem jamais relatar um projeto de lei ou presidir uma comissão – coisas que dão trabalho e demandam estudo. Não fez melhor na presidência.
Quem puder, cite um grande desafio brasileiro dos últimos anos diante do qual Bolsonaro tenha assumido liderança incontestável, ou para o qual tenha desenhado uma solução. Não há. O grande feito de seu primeiro ano de governo, a aprovação do novo marco do saneamento, foi mérito do Congresso. Depois veio a pandemia e, em vez de encabeçar o combate ao vírus, ele quis deixar que a doença agisse desimpedida. Tanto os remédios farmacêuticos (vacinas) quanto os econômicos (auxílio emergencial) chegaram à população não por causa, mas apesar de Bolsonaro. A absoluta inaptidão do ocupante do Planalto para construir consensos transferiu para o Centrão o controle da pauta política – sendo que um poder inédito sobre o orçamento da União veio de quebra.
Bolsonaro chegou ao Planalto defendendo uma plataforma pró-privatizações. Se acha que vender a Petrobras é uma boa ideia, por que não o fez? Por que não o faz? A dificuldade é que levar esse plano adiante requer um enorme esforço político e de formulação técnica. É como disse Bolsonaro, meses atrás: “A privatização entrou no nosso radar. Mas privatizar qualquer empresa não é, como alguns pensam, pegar a empresa, botar na prateleira, e amanhã quem der mais leva embora. É uma complicação enorme.” Muito mais fácil é atribuir a culpa pelo preço dos combustíveis ao ICMS dos governadores ou à direção da Petrobras – e ficar choramingando, como uma criança que se sente injustiçada.
Bolsonaro deveria ao menos ter a decência de engolir o mimimi. Ou, melhor ainda: livre-se do problema que é governar; livre-nos do problema que é o seu governo.