Granada da Intolerância (por Juliana Alvim)Blog do Noblat

Em tempos de guerra na Ucrânia, um aluno do nono ano do colégio Santa Dorotéia, escola particular da região centro-sul de Belo Horizonte, aparece com uma granada na sala de aula. A escola chama o esquadrão antibomba e atesta que o artefato estava desativado. A bomba não estourou, mas a guerra estava declarada. Família e adolescente foram cancelados.

A sucessão de erros envolve polícia, imprensa, pais e escola.

A polícia não só divulgou o caso como também cedeu para uma emissora de TV um documento com o nome completo do menor. Violação ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Nesse mesmo documento, a polícia diz que o pai foi informado que o filho havia sido suspenso por três dias, a partir de então, contudo, estaria impossibilitado de buscar seu filho e autorizou que ele fosse liberado da escola, sem a presença de responsável.” A polícia aponta o pai como negligente e omite a origem da granada, permitindo especulação de terrorismo.

A explicação circulou pelo WhatsApp de pais das escolas: era uma granada da II Guerra Mundial que o avô do aluno emprestou para que o neto mostrasse na aula sobre a guerra na Ucrânia.

Essa versão foi confirmada pela diretora da escola, Zuleica Reis Ávila: “mesmo que tenha um tema ligado à guerra não justifica apresentar nesse momento um artefato dessa natureza”.

A escola publicou nota no Instagram alegando que o caso contrariou o compromisso com a integridade dos alunos e que mantinha os “princípios educacionais e cristãos”. A nota termina taxativamente: “O estudante foi desligado da Escola”.

O estudante terminou sendo expulso!

Em geral, as matérias não explicaram como o menino conseguiu a granada, distorcendo completamente a história. Ora, o menino levou a granada para a escola sabendo que ela estava desativada, e não para colocar em risco os colegas e educadores. Nas reportagens, também não deram espaço para defesa do menino. Psicólogos ou pedagogos também não foram ouvidos. Um exemplo de mau jornalismo.

Juliana Alvim – jornalista