Meio ambiente, o verdadeiro reality show (por Emiliano Lobo de Godoi)Blog do Noblat

Em tempos de mundo digital, fica confuso até definir o que, de fato, é a nossa realidade. Observar e acompanhar pessoas que não conhecemos, com hábitos que não temos, em uma casa que nunca fomos, e que jamais iremos, não pode ser chamado de um show de realidade ou um reality show. Realidade de quem?

A nossa realidade, pelo menos, a da grande maioria de nossa população, está muito longe desse mundo. Esse não é o nosso meio. Esse não é o nosso ambiente.

Cada vez mais é necessário retirar os olhos das telas dos aparelhos de tv e dos celulares e enxergar as pessoas que estão à nossa volta, caminhar nas ruas de nossas cidades, conhecer a cultura de nossa região e valorizar a raridade de nossa biodiversidade. É necessário observar o ambiente em que estamos. Esse é o nosso meio ambiente, a nossa realidade e o nosso verdadeiro reality show.

Neste mundo real poderemos perceber que o Brasil possui 20% do número total de espécies vivas da Terra e tem uma costa marinha de 3,5 milhões km², que inclui ecossistemas como recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos. Uma riqueza que, para ser valorizada, precisa ser conhecida. Temos uma diversidade de mais de 200 povos indígenas e várias comunidades quilombolas, caiçaras e seringueiros, que reúnem um incalculável acervo de conhecimentos tradicionais.

Devemos sentir o que acontece para além das telas e reconhecer que estamos em um país com um dos maiores patrimônios naturais do planeta e que está sob um grande risco. Temos uma fauna e uma flora que só aqui se pode ver. Somos detentores de 12% da água doce da terra, com um número imenso de cachoeiras e locais para serem visitados. Devemos mergulhar nessas águas e alongar nossas vistas. Temos que revisitar o esquecido espetáculo diário do amanhecer e do pôr do sol que ocorrem com toda sua exuberância e, cada vez, com menos espectadores.

Discutir quem ficará ou não em um programa de um reality show não pode ser mais importante do que o show que ocorre em nossa vida real. A energia dessa mobilização deve ser levada também para os fatos que acontecem conosco e ao nosso lado. Devemos nos unir com muito mais força e intensidade para defender a nossa verdadeira realidade, o nosso patrimônio natural e os nossos povos.

Necessitamos de nos sensibilizar muito mais com as grandes tragédias como as que ocorreram recentemente em Petrópolis, Mariana e Brumadinho e muito menos com a eliminação de um desconhecido participante de uma distante casa.

Após essa trágica pandemia nos últimos dois anos, precisamos reconectar as pessoas, os abraços e a insubstituível sensação do olhar nos olhos de quem está ao nosso lado!

A cada dia que passa sabe-se menos sobre o que acontece em nossa família e mais sobre o que acontece com efêmeras celebridades. Tatuagens inusitadas ganham mais destaques que pesquisas científicas. A realidade alheia tem nos desconectado cada vez mais de nossa realidade pessoal.

É momento de se reconectar à verdadeira casa, ao meio em que estamos inseridos, ao nosso meio ambiente, antes que percamos completamente o nosso mundo real e do qual, efetivamente, dependemos. Isso sim, é viver o nosso verdadeiro reality show. É ser o ator, e não o telespectador.

 

brumadinho