É fato, opinião não é, que Bolsonaro joga fora das “quatro linhas” da Constituição, expressão que ele sempre usa em sua defesa. Mas talvez ele tenha razão ao dizer que a Justiça, no topo o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral, joga fora.
Se os dois tribunais jogassem dentro das quatro linhas da Constituição já teriam punido Bolsonaro por um monte de coisas – a mais escandalosa, campanha antes da hora para se reeleger. Campanha paga com o uso e o abuso de recursos públicos.
Há poucos dias, cinicamente, Bolsonaro disse aos seus devotos no cercadinho do Palácio da Alvorada que como trabalha muito não tem tempo para cuidar de sua campanha. Risível. Ele é um dos presidentes que menos trabalham. Governar não é seu forte.
Correr atrás de votos, é. E ele tem demonstrado isso desde que tomou posse do cargo. Em ano não eleitoral, fica difícil para a Justiça distinguir entre ato de governo e ato puramente de campanha. Porque cabe ao presidente comunicar-se com o povo.
Em ano eleitoral, porém, a distinção é clara, e os candidatos tratam de respeitar os prazos estipulados em leis para que possam fazer campanha. Um deslize mais afrontoso pode ser punido com advertência, multa ou até a suspensão da candidatura.
Bolsonaro tem pagado para ver, e a Justiça finge que não vê. Presidente algum, nem mesmo levando-se em conta os da ditadura militar de 64 que durou 21 tristes anos, violou todos os códigos de conduta desfrutando de tamanha proteção como Bolsonaro.
Por muito menos, nos anos 1980, Bolsonaro foi afastado do Exército e considerado um mal militar. Foi garimpeiro enquanto vestia a farda, o que era proibido. Para ganhar salário mais alto, planejou detonar bombas em quartéis, mas faltou-lhe coragem.
Vive a ameaçar a democracia com o fantasma de um golpe militar, e a Justiça ignora, e o Congresso que poderia abrir contra ele um processo de impeachment, não abre. Defende armas para todos, os milicianos e o crime organizado agradecem, e nada lhe acontece.
Foi avisado a tempo que algo podre havia nas negociações para a compra da vacina indiana Covaxin contra a Covid-19, e preferiu calar-se. Ora, vejam: a Procuradoria-Geral da República alegou que não faz parte das funções do presidente denunciar crimes.
Tolerado de maneira tão cúmplice pelos demais Poderes, o que mais Bolsonaro poderá tentar? Convocar seus seguidores para que ocupem as ruas em manifestações ruidosas caso ele não se reeleja? Negar-se a aceitar o resultado das urnas? Apelar às Armas?
Acorda, Brasil!