Se eleição não tem a ver com quartel, falta acabar com comissãoBlog do Noblat

Um dia, certamente ensolarado e de céu azul sem nuvens, quando se contar a história de como a democracia venceu seu mais duro teste no ano do bicentenário da Independência do Brasil, uma menção será feita à fala enérgica de 12 de maio do ministro Edson Fachin, à época presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

A frase que ficará na memória dos que a ouviram dizia que quem trata das eleições “são as forças desarmadas”. Ela resume a fala, mas nem por isso dispensa a lembrança do que mais disse o ministro com voz pausada e ar grave como exigia a ocasião. Foi o pronunciamento que marcou o mandato de Fachin.

“Não admitiremos qualquer circunstância que obste a manifestação da vontade soberana do povo escolher seus representantes. Uma geração deu sua vida durante 21 anos da ditadura civil-militar para que pudéssemos exercer o direito de escolher. Quem vai ganhar as eleições é a democracia”.

“Quem duvida, quem põe dúvida no processo eleitoral é porque não confia na democracia. Os corações e as mentes democráticas no Brasil confiam no processo eleitoral que tem 25 anos de história, de experiência e de credibilidade”.

“Quem investe contra o processo eleitoral que está descrito na Constituição, investe contra a Constituição e investe contra a democracia. Esse é um fato, e os fatos falam por si só. Quem defende ou incita intervenção militar está praticando um ato que afronta a Constituição e afronta a democracia.”

“Quem trata de eleições são forças desarmadas. E, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que de maneira livre e consciente escolhe seus representantes. Logo, diálogo sim, como disse, colaboração sim, mas na Justiça Eleitoral quem dá a palavra final é a Justiça Eleitoral.”

As Forças Armadas não responderam ao ministro. Quem o fez em seu nome ou como o usurpador que é foi o presidente da República acidentalmente eleito, um ex-capitão banido do Exército por indisciplina e conduta antiética. Um mal militar, como o definiu o general Ernesto Geisel, o terceiro presidente da ditadura de 64.

Disse Bolsonaro:

“Não existe interferência. Ninguém quer impor nada. Ninguém quer atacar as urnas eletrônicas, atacar a democracia. Ninguém está incorrendo em atos antidemocráticos, pelo amor de Deus”.

Uma vez que quem cuida das eleições “são as forças desarmadas” e eleições “dizem respeito à população civil”, passou da hora de acabar com a comissão criada pelo tribunal para colher sugestões dos interessados em aprimorar o processo eleitoral. A farda virou a voz do dono e, por ora, o dono da voz é Bolsonaro.