Trama de golpe: crise atual e a prisão de Chico Pinto (por Vitor Hugo)Blog do Noblat

Sem temores nem tremores, quanto à trama de golpe, observo os sinais que chegam na Bahia soprados pelos ventos no Planalto Central do país; leio alertas na imprensa, blogs, sites, TVs e redes sociais; e anoto no papel – como fazia em tempos idos, no JB, na Veja, em A Tarde – o que julgo relevante nos fatos desta nova escalada da crise que aumenta à medida que se aproximam a votação e apuração das eleições de outubro. Ruídos fortes e nítidos, já na segunda-feira, 9, com o corte, pelo ministro da Defesa, do nome do general antes indicado como integrante da Comissão de Transparência Eleitoral do TSE.

Medida estranha não pela troca em si dos fardados, mas pelo tom de caserna empregado pelo general Paulo Sérgio Nogueira, no Ofício ao ministro presidente do TSE, Luiz Edson Fachin, ordenando a retirada do nome de Heber Garcia Portella da CTE. Curto e grosso, o chefe da Defesa no governo Bolsonaro escreveu: “que a partir desta data as eventuais demandas da CTE, direcionadas às Forças Armadas, tais como solicitações diversas, participação em reuniões, etc, sejam encaminhadas a este ministro, como autoridade representada naquela Comissão”. Precisa desenhar?

Semana passada, o general cobrara do TSE a divulgação das sugestões feitas por seu ministério, a título de “dar mais transparência ao voto eletrônico”. O ministro Fachin foi direto ao ponto, na resposta. Informou ao chefe da Defesa que não via problema em divulgar a íntegra das sugestões, mas lembrou: “os documentos haviam sido classificados como reservados pelos próprios militares”. Esta semana, a conversa subiu de tom, ou, -para usar a linguagem do ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa -, avançou alguns pontos fora da curva. É assim, em geral, que as crises explodem e se propagam sem controle.

É o golpe propriamente dito, como se deu em abril de 64, com a derrubada do presidente João Goulart, repetido violentamente, em 68, com o AI-5. Das tensões, temores, desaparecimentos, prisões, torturas e mortes naqueles anos loucos. Vale lembrar que o começo deste mês de maio, marcou os 58 anos da prisão e afastamento do então prefeito de Feira de Santana, Francisco Pinto, líder político baiano e nacional (ex-deputado federal do MDB), um dos notáveis da resistência à ditadura, ao lado de Ulysses Guimarães, no Congresso e nas ruas.

Chico Pinto foi preso na manhã de 2 de maio de 64. Sua casa fora cercada durante a madrugada por tropa do Exército, vinda de Alagoas, de homens armados de pistolas, fuzis e metralhadoras. “Cedo, na companhia de dois soldados, um tenente entra na casa e lá estavam Francisco Pinto, sua mãe Inácia Pinto dos Santos, dona Pombinha, um irmão e empregados domésticos”, conta o jornalista feirense Wilson Mário da Silva. O político saía do banho, quando o oficial avisa que precisa conversar com ele fora da residência. “Pinto pede um momento. Comunica que vai colocar paletó e gravata para se apresentar às autoridades, e o militar acena que sim. Mas quando o prefeito se dirige ao quarto o tenente o segue.”. Neste momento, narra o jornalista, “Dona Pombinha postou -se diante do tenente e disse: “pare aí, nem mais um passo. Meu filho não vai fugir. Ele só vai trocar de roupa e vai se apresentar.” Roupa trocada, Chico Pinto retorna, beija a mão da mãe, pede a benção e sai acompanhado dos militares. Ele sabia que a partir dali estava preso”. O golpe seguia seu curso. Implacável…

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: [email protected] com. br