Oito de dezembro de 1980. A notícia do assassinato de John Lennon em frente ao edifício Dakota, em Nova York, percorreu o mundo e alcançou as redações brasileiras na madrugada do dia seguinte. Quarenta e cinco anos depois, o episódio continua a ser lembrado pela forma como mobilizou jornalistas, sem internet, telefones celulares ou computadores pessoais.
Descoberta da morte
No Recife, naquele feriado de Nossa Senhora da Conceição e Iemanjá, o jornalista paraibano Sílvio Osias assistia ao filme “O Império dos Sentidos”, de Nagisa Oshima, no Cine Moderno lotado. Obras como “Último Tango em Paris” e “Laranja Mecânica” também integravam a programação que chegava à capital pernambucana com os ventos da abertura política.
Na manhã de 9 de dezembro, já em João Pessoa, Osias recebeu telefonema do colega Carlos Aranha, da redação do jornal A União:
— Soube da morte?
— Não.
— John Lennon.
— Como?
— Assassinado em Nova York.
Rotina sem tecnologia digital
Osias correu para o Departamento de Pesquisa do jornal, então localizado em uma casa na Rua João Amorim, bairro de Jaguaribe. As informações chegavam em rolos de papel enviados pelas agências AP, UPI e AJB, lidas em máquinas barulhentas. Textos eram datilografados; fotografias, escolhidas manualmente. Somente três pessoas entraram na sala durante a tarde: a chefe de pesquisa Luzia, o diretor técnico Gonzaga Rodrigues e o compositor Dida Fialho, que, de passagem, mencionou o câncer de Bob Marley.
Títulos e repercussão nacional
Na edição de A União, o editor Agnaldo Almeida optou pela manchete direta “JOHN LENNON ESTÁ MORTO”. O Jornal Nacional daquela noite registrou audiência incomum na redação paraibana, mas cometeu erro ao atribuir a Lennon composições dos Beatles escritas por Paul McCartney, como “Yesterday” e “Let It Be”.
Principais diários também destacaram o fato: o caderno B do Jornal do Brasil circulou com “ÍDOLO DA CANÇÃO MUNDIAL NÃO PÔDE DIZER AS ÚLTIMAS PALAVRAS”, enquanto a Folha de S.Paulo trouxe “A MORTE DE UM BEATLE”.
Emoção popular
Mais tarde, Osias participou de programa ao vivo na Rádio Tabajara e, em casa, acompanhou o Jornal da Globo, que reuniu comentários de Nelson Motta e Luiz Carlos Maciel. Uma imagem exibida pela TV marcou o jornalista: um rapaz diante do Dakota carregava um aparelho de som portátil e tocava “Nowhere Man”, faixa de Lennon lançada pelos Beatles no álbum Rubber Soul (1965).
Legado
Lennon, então com 40 anos, era ouvido intensamente no Brasil durante os anos 1970, sobretudo no álbum John Lennon/Plastic Ono Band. A comoção coletiva de 1980 consolidou-se como um dos momentos mais marcantes do jornalismo cultural no país, ilustrando os desafios de apurar e publicar notícias em um período pré-digital.
Com informações de Jornaldaparaiba



