O ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, de 44 anos, foi preso preventivamente em Campina Grande (PB) sob suspeita de comandar uma organização criminosa especializada em fraudar concursos públicos, entre eles o Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024.
Mandados cumpridos em três estados
A Polícia Federal deflagrou a operação “Última Fase” em 2 de outubro, cumprindo 12 mandados de busca e apreensão, três de prisão preventiva e outras medidas cautelares na Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Um dos alvos, Wanderlan, foi detido quando estava internado em um hospital de Campina Grande. Houve ainda buscas em Patos (PB) e João Pessoa (PB).
Perfil do principal suspeito
Nascido em Patos, no Sertão paraibano, Wanderlan foi expulso da Polícia Militar da Paraíba em 2021. Ele soma condenações por homicídio, peculato, concussão, roubo majorado, abuso de autoridade, uso de documento falso e, em 2020, teve confirmada pena de seis anos por tortura contra um adolescente.
Fraudes comprovadas
Segundo a PF, o ex-PM se inscrevia nos certames para demonstrar a eficácia do esquema. No CNU de 2024, foi aprovado para o cargo de auditor fiscal do trabalho, com salário inicial de R$ 22,9 mil, mas não compareceu ao curso de formação. Laudo técnico apontou que ele e outros três candidatos — Valmir Limeira de Sousa, Larissa de Oliveira Neves e Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior — apresentaram gabaritos idênticos, inclusive nos erros, em provas de cadernos diferentes. A probabilidade de coincidência casual equivale a ganhar a Mega-Sena 18 a 19 vezes seguidas.
O grupo utilizava pontos eletrônicos, mensagens codificadas e comunicação externa para repassar respostas. Profissionais de saúde teriam auxiliado na instalação dos dispositivos.
Envolvimento de familiares
De acordo com o inquérito, os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves ocupavam funções específicas na estrutura criminosa. Larissa também foi aprovada no CNU e servia como “vitrine” para atrair interessados, enquanto a aprovação recorrente de Wanderlan reforçava a suposta infalibilidade do método.
Fluxo financeiro incompatível
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) indicaram movimentações incompatíveis com a renda dos investigados. Um deles mostrou que Geórgia Neves depositou R$ 419,6 mil em espécie, apesar de não ter vínculo empregatício desde 1998. A PF também identificou compra e venda fictícia de imóveis, uso de laranjas e transações de veículos como forma de ocultar pagamento de propina; em um caso, parte do valor por uma vaga na Caixa Econômica Federal foi paga com a compra de uma motocicleta cinco dias após a prova.
Concursos sob suspeita
A investigação aponta tentativas de fraude em certames das Polícias Civis de Pernambuco e Alagoas, da Universidade Federal da Paraíba, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e em diversos processos seletivos entre 2015 e 2025.
Imagem: cargo público
Outros investigados
Entre os suspeitos de se beneficiar do esquema no CNU estão Eduardo Henrique Paredes do Amaral, Allyson Brayner da Silva Lima, Mylanne Beatriz Neves de Queiroz Soares, Janaína Carla Nemésio de Oliveira e Aially Soares Tavares Pinto Xavier. No concurso da Caixa, foram citados Júlio Cesar Martins Brilhante e Isabelle Nayane de Medeiros Dantas Aires.
Medidas judiciais
Até o deferimento das cautelares, nenhum dos principais aprovados havia tomado posse. Além das prisões, a Justiça determinou afastamento de cargos públicos e bloqueio de bens. Os suspeitos podem responder por fraude em concurso, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsificação de documento público.
O Ministério da Gestão informou que acompanha as investigações e adotará providências administrativas necessárias. A defesa de Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior nega participação e afirma que provará a inocência do cliente.
O g1 procurou todos os citados e empresas mencionadas, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
Com informações de g1



