Crise de fertilizantes expõe falta de planejamentoO Antagonista

Em artigo publicado na Folha, os pesquisadores do Insper Agro Global Claudia König, Camila Dias de Sá e Marcos S. Jank alertam para a forte dependência do agronegócio brasileiro em relação a fertilizantes importados e como a falta de planejamento levou o Brasil a uma situação crítica. 

O Brasil consome 8,3% da produção mundial do insumo, atrás apenas da China (24%), da Índia (14,6%) e dos Estados Unidos (10,3%). Das quatro nações, porém, apenas a nossa tem produção doméstica de baixa relevância, “o que coloca o país na sensível posição de maior importador de fertilizantes global” .

O problema não é novo. “A dependência das importações de fertilizantes pelo Brasil há anos tem provocado um debate sobre novas políticas públicas e privadas para aprimorar o funcionamento desse mercado. O grande volume de importação deixa os custos das atividades agrícolas excessivamente vulneráveis às oscilações cambiais e às possibilidades de interrupções de fornecimento” , alertam.

Os pesquisadores explicam que o baixo custo de importação e o fornecimento regular até hoje desincentivaram maiores investimentos privados . Mas, em 2021,  o forte aumento dos preços dos fertilizantes acendeu o sinal amarelo. “Com a eclosão da guerra, o alerta passou para vermelho.”

Não se pode, portanto, abrir mão de uma visão estratégica de longo prazo, especialmente quando se trata de segurança alimentar.  A redução da dependência não ocorrerá no curto prazo, “mas é prioritário que esse planejamento seja levado a cabo com seriedade, mesmo quando a fase mais aguda da crise passar” .

“Uma política agrícola sobre o tema deve também considerar instrumentos de incentivo a práticas agrícolas sustentáveis e regenerativas e a utilização de bioinsumos. O uso de fertilizantes de forma mais racional pode levar a uma redefinição significativa no consumo do insumo. Isso não implica reduzir a importância do uso de fertilizantes para a produtividade das lavouras, mas adotar um manejo mais sustentável e aplicações mais eficientes. Trata-se de um plano estratégico de longo prazo para o setor, que precisa ser colocado em andamento o mais breve possível” .

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