Brasília – Uma denúncia anônima levou a Polícia Federal a expor um esquema que, segundo as investigações, comercializava vagas em concursos públicos há mais de dez anos. O grupo, chefiado por Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso em 2021, cobrava até R$ 500 mil por aprovação e utilizava dublês, pontos eletrônicos implantados cirurgicamente e acesso antecipado a gabaritos para burlar a fiscalização.
Coincidência estatística revelou fraude
A apuração começou após a PF comparar cartões-resposta do Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024, organizado pela Fundação Cesgranrio. Candidatos investigados apresentaram respostas idênticas – inclusive erros – em provas de versões diferentes. Peritos calcularam que a chance de repetição seria equivalente a vencer o prêmio máximo da Mega-Sena 19 vezes consecutivas, o que sustentou o indício de fraude.
Como operava a “Máfia dos concursos”
Com sede em Patos (PB), o esquema era formado por parentes e pessoas próximas a Wanderlan. Entre os métodos utilizados, a PF aponta:
- implante de micropontos eletrônicos para comunicação durante a prova;
- substituição de candidatos por dublês com documentos falsificados;
- venda antecipada de gabaritos.
Pagamentos eram acertados após a aprovação ou posse e disfarçados por meio de compra de veículos, imóveis, ouro e procedimentos odontológicos. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) detectou, por exemplo, depósito em espécie de R$ 419 mil feito por Geórgia Neves, sem vínculo formal desde 1998.
Principais investigados
Além de Wanderlan, a PF identificou:
- Valmir Limeira de Sousa – irmão de Wanderlan;
- Larissa Neves – sobrinha, aprovada no CNU;
- Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior – policial militar no RN e dono de clínica odontológica suspeita de lavar dinheiro;
- Thyago José de Andrade (“Negão”) – apontado como controlador dos pagamentos e repasse de informações;
- Laís Giselly Nunes de Araújo – advogada suspeita de fraudar 14 concursos, incluindo o do Tribunal de Contas de Pernambuco;
- Luiz Paulo Silva dos Santos – associado a mais de 67 fraudes em certames.
Etapas da investigação
Com a confirmação das coincidências nos gabaritos, a PF obteve autorização judicial para buscas, quebras de sigilos bancário e telemático e interceptações telefônicas. Uma ação controlada monitorou Antônio Limeira durante o concurso da Polícia Federal, reunindo novas provas.
A operação foi deflagrada em 27 de julho de 2025, com mandados cumpridos em vários estados. Já em 2 de outubro de 2025, a Operação Última Fase levou à prisão preventiva de três suspeitos – dois em Recife (PE) e um em Patos (PB). Foram apreendidos celulares, computadores, documentos e um cofre contendo registros de fraudes entre 2015 e 2025.
Imagem: cargo público
Medidas preventivas
Segundo a PF, nenhum dos principais investigados havia tomado posse nos cargos conquistados. A corporação e o Ministério Público Federal solicitaram prisão preventiva, busca e apreensão, além do impedimento de posse ou afastamento cautelar dos aprovados.
O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos informou que acompanha o caso e cumpre todas as determinações judiciais. Após a operação, os ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Gestão reforçaram as medidas de segurança no CNU 2025, aplicado em 5 de outubro.
Posicionamentos
Advogados de Ariosvaldo Lucena, da família Limeira, de Thyago José, de Laís Giselly e de outros citados negam as acusações e afirmam aguardar acesso integral aos autos. Todos prometem colaborar com a investigação e destacam o direito à ampla defesa.
Com informações de g1.globo.com



