Uma operação da Polícia Federal (PF) desmontou um esquema de fraudes em concursos públicos que, segundo as investigações, funcionava como um negócio familiar e altamente organizado a partir de Patos, no Sertão da Paraíba. Batizada de Operação Última Fase, a ação foi deflagrada em 2 de outubro e revelou que o grupo cobrava até R$ 500 mil por vaga, utilizando tecnologia avançada para garantir a aprovação de candidatos.
Quem está no centro do esquema
O principal articulador apontado pela PF é Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso da corporação em 2021. Ele teria a ajuda dos irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, da cunhada Geórgia de Oliveira Neves, da sobrinha Larissa de Oliveira Neves e do filho Wanderson Gabriel Limeira de Sousa. Cada um desempenhava funções específicas, como negociação com candidatos, repasse de gabaritos e movimentação financeira.
Outros suspeitos também são considerados peças-chave: Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior, Thyago José de Andrade (conhecido como “Negão”), Laís Giselly Nunes de Araújo e Luiz Paulo Silva dos Santos. Este último é investigado por envolvimento em mais de 67 concursos fraudulentos.
Como as fraudes eram executadas
De acordo com o inquérito, o grupo utilizava pontos eletrônicos implantados cirurgicamente nos ouvidos dos candidatos, permitindo comunicação em tempo real durante a prova sem ser detectado. Também havia uso de mensagens codificadas, transmissão externa de gabaritos e, em alguns casos, substituição dos candidatos por “dublês”.
Valor cobrado e lavagem de dinheiro
As tarifas variavam conforme o cargo pretendido, chegando a R$ 500 mil. Os pagamentos eram quitados em dinheiro vivo, ouro, veículos e até procedimentos odontológicos. Para ocultar a origem dos recursos, a organização simulava compra e venda de imóveis, usava “laranjas” e movimentava quantias altas em espécie. A clínica odontológica de Ariosvaldo Lucena é suspeita de ter funcionado como fachada para parte das transações.
Concursos e beneficiados
As fraudes teriam ocorrido em dezenas de certames entre 2015 e 2025, incluindo provas da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Universidade Federal da Paraíba, polícias Civil e Militar e o Concurso Nacional Unificado (CNU). No CNU de 2024, pelo menos dez pessoas teriam sido aprovadas de forma irregular. Entre os nomes citados pela PF estão Eduardo Henrique Paredes do Amaral, Allyson Brayner da Silva Lima, Mylanne Beatriz Neves de Queiroz Soares, Janaína Carla Nemésio de Oliveira, Aially Soares Tavares Pinto Xavier, Júlio Cesar Martins Brilhante e Isabelle Nayane de Medeiros Dantas Aires.
Provas reunidas pelos investigadores
A PF destaca a coincidência de gabaritos no CNU de 2024: Wanderlan, Valmir, Larissa e Ariosvaldo responderam de forma idêntica, inclusive nos erros, embora tenham recebido provas de tipos diferentes. Especialistas consultados compararam a probabilidade desse resultado à chance de vencer 19 vezes seguidas o prêmio máximo da Mega-Sena. Áudios interceptados, mensagens criptografadas, comprovantes de pagamento e movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos investigados reforçam o caso.
Imagem: cargo
Medidas judiciais
A Operação Última Fase cumpriu mandados de busca e apreensão e resultou na prisão preventiva de três pessoas – duas em Recife (PE) e uma em Patos (PB). A Justiça determinou o bloqueio da posse dos candidatos aprovados via fraude e o afastamento cautelar de servidores suspeitos. O juiz Manuel Maia de Vasconcelos Neto destacou que especialistas contratados pela quadrilha chegavam a fazer as provas no lugar dos candidatos.
O que dizem os investigados
As defesas negam envolvimento. A representação de Ariosvaldo Lucena afirma que as acusações se baseiam em indícios e que comprovará a inocência. Os advogados de Antônio Limeira, Geórgia Neves e Larissa Neves dizem colaborar com a investigação e ressaltam que não há denúncia formal. Thyago José de Andrade promete provar inocência “no momento oportuno”, enquanto a defesa de Laís Giselly afirma que ela sempre estudou para concursos. Wanderlan Limeira aguarda acesso aos autos para se manifestar e Valmir Limeira alega falta de provas concretas. Os representantes de Wanderson Gabriel criticam o que chamam de “linchamento público” e defendem a presunção de inocência.
As investigações continuam para identificar eventuais servidores públicos e profissionais de saúde envolvidos na instalação dos dispositivos eletrônicos.
Com informações de g1



