Essa semana começaram as propagandas partidárias nos órgãos de comunicação. Belíssimas imagens acompanhadas com as promessas de sempre, os candidatos de sempre, as intenções de sempre.
Uma boa hora para nós, como cidadãos, pensarmos mais sério no futuro de nossa família. Entendermos as razões para os desacertos na gestão do país. Escolhermos com a razão e não com a emoção.
Algumas estruturas do Estado brasileiro estão carcomidas e precisam de uma drástica repaginada para sairmos desse pântano econômico, psicossocial, político e moral que nos meteram.
O instituto da reeleição é uma delas.
Aprovada em 1997, após várias negociações e uma pequena batalha no Congresso Nacional, não se mostra eficiente para produzir os ganhos a que se propôs.
O modelo foi baseado nas democracias maduras e defende que os chefes de governo não conseguem pôr em prática os planos divulgados na campanha eleitoral em apenas quatro anos (no caso do Brasil).
Alega que se exerceram com eficiência seu mandato é justo que esses políticos possam dar continuidade ao seu trabalho.
Entretanto, a realidade não tem as cores vistosas dos sonhos. Há diferenças intransponíveis entre as práticas políticas aqui e lá exercidas. Entre a educação cidadã – uma dívida da democracia como reclamou Norberto Bobbio – e a deseducação de nossa sociedade. Somos personalistas, eles partidários.
O presidente, tão logo discursa na Praça dos Três Poderes, após sua posse, já começa a trabalhar para a reeleição.
Abandona suas promessas iluminadas durante a campanha para, no escurinho do banheiro, fazer os acertos espúrios para manter-se no poder.
É evidente que lideranças com esse comportamento amoral sofrem pressões. O diálogo nebuloso incentiva a corrupção.
Nos trinta anos desde a promulgação da lei maior, já ocorreram dois impedimentos.
O vice-presidente passa, então, a ser fator de instabilidade.
A lealdade não veste a todos eles. Raros tiveram ou terão o comportamento do atual vice-presidente.
Em alguns, essa lealdade é difusa e se alinha com interesses pessoais ou de seu grupo político.
A possibilidade de assumir o cargo mais importante da Nação é estimulante e faz lembrar Henry Kissinger: o poder é afrodisíaco.
Logo, a seleção do companheiro de chapa para a presidência se torna uma questão de sobrevivência para o candidato.
Alguns escolhem por afinidade e visão política, outros com foco na proteção que pode ser oferecida pelo grupo ao qual pertence o candidato à vice-presidente.
A sombra do reserva de luxo está sempre presente. Há presidentes que sabem utilizar essa sombra para abrigar-se das intempéries que açoitam o cargo.
Os inseguros, mal são confirmados vencedores das eleições, declaram separação de corpos e marcam a data do divórcio: 1º de janeiro do ano da posse.
Receia que o trabalho de seu companheiro de chapa o ofusque no poder.
Desse pequeno arrazoado pode-se deduzir que reeleição foi um péssimo instrumento para a nossa democracia e a figura de um vice-presidente, se não exercida por alguém de real valor pessoal e profissional, traz insegurança.
Muito dos candidatos, por convicção genuína ou para agradar os marqueteiros, vêm defendendo a extinção da reeleição. Sendo verdade, coloquem claramente em programas de governo essa proposta.
Aproveitem para indicar uma revisão na Constituição que acabe também com o cargo de vice-presidente e tenham coragem de tocar na questão do tamanho do mandato.
Alexis de Tocqueville afirmou, em 1848, lamentando a degeneração dos costumes públicos: “As opiniões, os sentimentos, as ideias comuns são cada vez mais substituídas pelos interesses particulares”. Como ele é atual.
Se o desejo pelo poder, senhor candidato, é filosófico, nada mais justo que abdicar das bonanças que o cargo lhe confere em prol da estabilidade do país.
Só então saberemos diferenciar se você é um homem que busca o bem comum ou só pensa naquilo.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros. General de Divisão do Exército