João Pedro Pereira Barbosa, de 14 anos, tornou-se o primeiro paciente pediátrico a receber um transplante de coração realizado pela rede estadual de saúde da Paraíba. A cirurgia, custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ocorreu na sexta-feira, 21 de junho, no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita. A mãe do adolescente, Carla Pereira Barbosa, viveu o procedimento com emoção redobrada: antes de João Pedro, ela já havia perdido uma filha por complicações de saúde.
Doença genética e limitações
Diagnosticado aos 13 anos com displasia arritmogênica do ventrículo direito — enfermidade genética que substitui o músculo cardíaco por tecido adiposo —, João Pedro enfrentava arritmias graves e risco de insuficiência cardíaca. Cansaço extremo, dificuldade até para tomar banho e ausência na escola faziam parte da rotina do adolescente, morador de Santana dos Garrotes, no Sertão paraibano. O acompanhamento médico começou ainda na gestação, considerada de risco, e se intensificou após o nascimento.
No ano passado, ele recebeu um cardiodesfibrilador e passou a usar medicamentos, mas os sintomas continuaram. A cardiologista Roberta Barreto, integrante da equipe de transplantes do hospital, alertou que, em quadros como o dele, o transplante pode ser a única saída. O ingresso na lista nacional ocorreu em 14 de novembro, e o órgão compatível surgiu em curto prazo, fato que surpreendeu a família.
Captação do órgão e logística
O doador foi um homem de 30 anos internado no Hospital de Trauma de Campina Grande. Além do coração transferido para João Pedro, rins, fígado e córneas foram encaminhados a receptores na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia. Por causa da urgência e da distância entre Sertão e litoral, o transporte do adolescente até João Pessoa ocorreu em 20 de junho, realizado pelo Grupo de Resgate Aeromédico da Paraíba (Grame) em aeronave do Corpo de Bombeiros.
Na manhã do dia seguinte, a equipe responsável pela captação utilizou o helicóptero Acauã para levar o órgão de Campina Grande a João Pessoa. A etapa final do traslado contou com apoio do Grupamento Tático Aéreo (GTA) da Polícia Militar, em parceria com as secretarias estaduais de Saúde e de Segurança e Defesa Social.
Recuperação e gratidão
Após a cirurgia, João Pedro permanece em recuperação no Hospital Metropolitano. “Neste 24 de junho, entrei novamente em uma UTI. Desta vez, vi vida no meu filho”, declarou Carla Barbosa, emocionada. A mãe agradeceu aos profissionais de saúde e à família do doador, lembrando que, sem a autorização para a retirada dos órgãos, o risco de morte súbita continuaria rondando o filho. Ela também se diz fortalecida pela fé e pelo apoio de familiares, entre eles o caçula, Ravi.
O transplante bem-sucedido marca um passo inédito na cardiologia pediátrica da Paraíba e reforça a estrutura de alta complexidade oferecida pela rede pública estadual.
Com informações de Jornaldaparaiba



