O deputado federal paraibano Hugo Motta utilizou, em seu discurso de posse como presidente da Câmara dos Deputados, a expressão “ódio e nojo à ditadura”, frase eternizada por Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição em outubro de 1988. A referência ao histórico líder do MDB ocorreu logo após Motta assumir o comando da Casa.

A menção ao chamado “Senhor Diretas” despertou questionamentos de profissionais que acompanham a cena política há décadas. Um jornalista de 66 anos, que afirma observar o cenário nacional desde a infância, disse que “os caminhos que levaram Motta à Presidência da Câmara não o credenciam a citar Ulysses Guimarães”. Segundo ele, declarações do novo presidente da Câmara não estariam alinhadas a atitudes posteriores na condução dos trabalhos legislativos.

Episódio com deputados de extrema direita

Pouco depois da posse de Hugo Motta, um grupo de deputados de extrema direita ocupou a mesa diretora da Câmara. Imagens que percorreram veículos de comunicação mostraram o momento em que o presidente da Casa retomou o assento, fato que colocou em dúvida, à época, sua autoridade para conduzir as votações em plenário. Apesar da invasão da bancada, não foi anunciada punição exemplar ou imediata aos parlamentares envolvidos.

Glauber Braga ocupou cadeira da Presidência

Em 9 de dezembro de 2025, já na segunda metade da atual Legislatura, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), às vésperas de enfrentar um processo de cassação, também ocupou a cadeira de Motta. A ação resultou em uma reação distinta: representantes da imprensa foram retirados das galerias, a TV Câmara teve o sinal interrompido e o parlamentar acabou removido com força pela Polícia Legislativa.

Diferentes respostas a ações semelhantes

Embora o regimento interno da Casa vete a ocupação da mesa diretora sem autorização, a resposta institucional aos dois episódios revelou tratamentos diferençados. Enquanto os deputados alinhados à direita permaneceram sem sanções imediatas, o líder do PSOL foi retirado de maneira considerada truculenta pelos presentes.

Para observadores, o contraste entre as medidas aplicadas aos dois grupos coloca em evidência a diferença de postura do comando da Câmara diante de atos que, em essência, violam o mesmo dispositivo regimental. É nesse cenário que críticos voltam a questionar a pertinência da citação feita por Hugo Motta ao legado democrático de Ulysses Guimarães, símbolo da resistência ao regime militar brasileiro.

Apesar das críticas, Hugo Motta não se manifestou publicamente sobre as acusações de tratamento desigual nem sobre a comparação com Ulysses. Já Glauber Braga, que segue respondendo a processo disciplinar, não indicou se recorrerá das ações adotadas pela Mesa Diretora. O episódio mantém acesa a discussão sobre a equidade no cumprimento das normas internas e reaviva o debate acerca da autoridade da Presidência da Câmara.

Com informações de Jornaldaparaiba