O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou nesta quinta-feira (4) que os Estados Unidos deverão apresentar, nos próximos dias, uma proposta formal de cooperação voltada ao combate ao crime organizado. Segundo o ministro, o embaixador interino norte-americano, Gabriel Escobar, demonstrou disposição para criar um canal direto de comunicação que permita rastrear, em tempo real, peças de fuzis embarcadas em portos norte-americanos com destino ao Brasil.
Haddad deu a declaração após reunião realizada à tarde no Ministério da Fazenda, em Brasília. De acordo com o ministro, a iniciativa busca permitir que autoridades dos dois países troquem informações assim que um contêiner com componentes de armamento desembarcar em território brasileiro. “Vamos indicar uma autoridade competente lá que cuidará dos assuntos brasileiros para saber quem exportou, por que exportou, a quem exportou e se houve participação do exportador em eventual fraude no porto”, afirmou.
Focos da investigação
Durante o encontro, o titular da Fazenda detalhou investigações conduzidas pela Operação Poço de Lobato, que apura suposto financiamento de atividades ilícitas por 55 fundos de investimento — 40 deles sediados no Brasil e 15 no exterior. Entre os alvos, destaca-se o grupo Refit, proprietário da antiga refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro. As apurações indicam que peças de fuzis enviadas dos Estados Unidos chegam ao país e acabam abastecendo facções criminosas.
O ministro acrescentou que os inquéritos apontam transferência de recursos entre diversos países para ocultação de patrimônio e evasão fiscal. Por esse motivo, Haddad pretende encaminhar às autoridades norte-americanas a documentação referente a fundos registrados naquele país, a fim de prevenir questionamentos jurídicos futuros.
Origem do diálogo
A reunião foi solicitada pela Embaixada dos Estados Unidos depois que o governo brasileiro enviou carta oficial em decorrência de conversa telefônica recente entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. Segundo Haddad, Escobar relatou orientação direta de Trump para aprofundar o diálogo com Brasília e se comprometeu a responder em breve às demandas apresentadas.
Haddad lembrou que parte das cargas que deixam portos norte-americanos desembarca no Brasil sem passar por escaneamento de contêineres, procedimento considerado essencial pela Receita Federal e pela Polícia Federal. O ministro defende que a cooperação proposta permita identificar a origem e o destino de cada remessa, além de apurar eventuais irregularidades na saída dos produtos dos Estados Unidos.
Integração de órgãos
No encontro, Haddad também destacou o trabalho conjunto da Polícia Federal, da Receita Federal, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e de ministérios públicos estaduais no combate ao crime organizado. Ele explicou que a presença norte-americana nessa rede de investigação pode reforçar a eficácia no rastreamento de dinheiro e mercadorias.
Escobar apresentou exemplos de iniciativas em andamento entre Estados Unidos e México, porém o ministro avaliou que a realidade brasileira difere da mexicana e defendeu termos ajustados ao contexto nacional. Ao final da reunião, Haddad afirmou ter saído com a impressão de que Washington acelerará a análise da proposta brasileira.
Com informações de Agência Brasil



