O cantor e compositor pernambucano Lenine lançou o álbum “EITA”, seu primeiro trabalho de estúdio em dez anos. O projeto, que chega simultaneamente às plataformas digitais e ao YouTube em formato de média-metragem, reúne 11 faixas inéditas e reafirma o vínculo do artista com a cultura nordestina.

Com direção artística assinada pelo próprio Lenine e produção musical de Bruno Giorgi, o disco traz arranjos de Carlos Malta, Henrique Albino e Martin Fondse. A sonoridade mescla referências experimentais com ritmos regionais, mantendo a característica plural que marca a trajetória do compositor.

A expressão popular que dá nome ao álbum pauta o caráter afetivo da obra. O músico dedica o lançamento a quatro mestres da música brasileira: Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Letieres Leite e Naná Vasconcelos. A reverência ao Nordeste também aparece na participação da família Bongar, que incorpora toques de terreiro do Xambá em uma das faixas.

O repertório conta com colaborações de diferentes gerações. Entre os jovens compositores estão Carlos Posada e Gabriel Ventura. Já o time de parceiros consagrados inclui Arnaldo Antunes, Dudu Falcão, João Cavalcanti, Lula Queiroga e Siba. O disco ainda recebe as vozes de Maria Bethânia, Maria Gadú, Siba e do próprio Gabriel Ventura, ampliando o diálogo musical.

Capa inspirada em xilogravura

A arte do álbum foi criada pela ilustradora Luíza Morgado, especialista em linogravura. A proposta surgiu do desejo de Lenine de associar a estética da xilogravura nordestina ao novo trabalho. A fotografia de Flora Pimentel completa o conceito visual pensado pelo artista desde as primeiras etapas de produção.

Canções e temáticas

Confia em Mim”, que abre o disco, retoma o território das baladas marcado em sucessos como “Paciência” (1999). A faixa-título “EITA” reflete o espanto do compositor diante da violência e do discurso de ódio que, segundo ele, se normalizaram no país. Em “Meu Xamêgo”, Lenine presta mais uma homenagem à companheira Anna Barroso.

O Rumo do Fogo”, composta com Lula Queiroga e interpretada ao lado de Maria Gadú, aborda a dívida histórica com os povos originários. Já “Foto de Família”, escrita em parceria com o filho João Cavalcanti, ganhou a participação especial de Maria Bethânia e foi inspirada em um retrato que reúne várias gerações da família do compositor.

A influência pernambucana se intensifica em “Boi Xambá”, dedicada a Guitinho, do grupo Bongar, falecido recentemente, e em “Malassombro”, composta ao lado de Siba em referência aos cantadores repentistas do Nordeste.

Hiato, pandemia e novos passos

O intervalo de dez anos sem um registro de estúdio ocorreu por diversos fatores. Em 2018, Lenine lançou um projeto ao vivo com músicas inéditas; em seguida, a pandemia de Covid-19 interrompeu planos e a família se concentrou no nascimento prematuro do neto Otto. Com o cenário normalizado, o artista finalizou “EITA”, que havia sido adiado gradualmente.

Depois do Carnaval de 2026, Lenine pretende levar o espetáculo homônimo à estrada. A turnê deve unir as canções do álbum e trechos do média-metragem exibido no YouTube, percorrendo várias cidades brasileiras antes de possíveis apresentações no exterior.

Com informações de Maispb