As investigações em torno da tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 ganharam novo capítulo na sexta-feira (21) com o desaparecimento do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A ausência do parlamentar, apontado pela Polícia Federal como integrante do núcleo que planejou manter Jair Bolsonaro no poder, foi interpretada por interlocutores do inquérito como mais um indício de risco de fuga entre apoiadores do ex-presidente.
O episódio envolvendo Ramagem somou-se a outras retiradas do cenário político. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) deixou o país meses antes, após ser flagrada, na véspera do segundo turno de 2022, empunhando arma de fogo nas ruas de São Paulo. Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) permanece nos Estados Unidos, onde grava vídeos com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e defende que simpatizantes continuem mobilizados em torno do pai.
No Brasil, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também intensificou sua atuação. Primeiro, tornou público um vídeo do ex-presidente enquanto este cumpria medidas cautelares impostas pelo STF. Na sequência, convocou apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio em Brasília onde Jair Bolsonaro estava em prisão domiciliar determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. A divulgação e a convocação foram listadas por investigadores como potenciais violações às restrições judiciais impostas ao ex-chefe do Executivo.
Fontes ligadas ao processo afirmam que essas movimentações deram combustível para pedidos de conversão da prisão domiciliar em preventiva, medida que, segundo integrantes da Procuradoria-Geral da República, ganhou força após o paradeiro de Ramagem tornar-se incerto. A avaliação é de que as ausências sucessivas de aliados e a ofensiva pública dos filhos do ex-presidente ampliam o temor de que Jair Bolsonaro possa tentar deixar o país antes do trânsito em julgado de eventuais condenações.
Analistas da cena política, que costumam apontar Flávio como o mais moderado entre os irmãos, observaram mudança de postura do senador nas últimas semanas. Já Eduardo tem sido descrito como distante da realidade brasileira ao manter ofensiva virtual a partir do exterior. Para investigadores, o comportamento dos dois parlamentares “atrapalha” a estratégia de defesa do ex-presidente e reforça a justificativa para medidas cautelares mais rígidas.
Enquanto isso, especialistas em direito eleitoral lembram que a legislação permite prisão em flagrante por porte ilegal de arma durante o período eleitoral, dispositivo que poderia ter sido aplicado a Zambelli em 2022. Eles também destacam que o autoexílio de Eduardo e a falta de cooperação de Ramagem colaboram para o ambiente de instabilidade em torno dos processos que tramitam no STF.
Até o momento, não há decisão formal sobre eventual prisão preventiva de Jair Bolsonaro, mas procuradores admitem que o contexto recente é monitorado de perto. O objetivo é avaliar se as novas circunstâncias configuram ameaça concreta à execução das penas impostas ou ao andamento das investigações.
No Planalto Central, a expectativa é de que o Supremo analise nas próximas semanas relatórios que detalham as últimas ações de aliados do ex-presidente, incluindo o desaparecimento de Ramagem, a convocação de atos e a divulgação de conteúdos considerados afronta às determinações judiciais.
Com informações de Jornaldaparaiba



