O longa-metragem “O Agente Secreto”, dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho, foi apontado como o grande acontecimento do cinema brasileiro em 2025. Ambientado no Recife e situado cronologicamente no carnaval de 1977, o filme de 2 horas e 40 minutos manteve salas cheias durante o ano e consolidou o cineasta pernambucano como um dos principais nomes da atual produção nacional.
Recife de 1977 no centro da trama
A narrativa começa com uma sequência de fotografias em preto e branco que transporta o público para o universo cultural dos anos 1970. Ícones como Os Trapalhões, A Escrava Isaura, Chacrinha, Zezé Motta, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Clara Nunes, o filme “Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia”, além do casal Tarcísio Meira e Glória Menezes, aparecem na tela. Uma imagem de Capiba relembra o Recife, personagem fundamental do enredo.
A cena de abertura, filmada em um posto de gasolina à beira de estrada, introduz o protagonista Marcelo/Armando, interpretado por Wagner Moura. A sequência estabelece o tom de alta tensão, misturado a humor, que se prolonga até o desfecho inesperado.
Elenco extenso e trilha variada
Além de Moura, o elenco reúne Tânia Maria (Dona Sebastiana), Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Hermila Guedes, Alice Carvalho, Thomás Aquino e os paraibanos Buda Lira e Suzy Lopes. Mesmo em participações breves, todos os atores têm espaço para se destacar, característica recorrente na filmografia de Kleber.
A trilha sonora é composta integralmente por canções já existentes. São citados nomes como Nelson Ferreira, Ennio Morricone, Waldick Soriano, o Conjunto Concerto Viola, a Banda de Pífanos de Caruaru, Ângela Maria, Lula Cortes e Zé Ramalho, além de faixas internacionais de Chicago e Donna Summer.
Ditadura militar em segundo plano estético
Sem abordar frontalmente o regime, “O Agente Secreto” retoma o clima da ditadura militar ao exibir, por exemplo, o retrato oficial do presidente Ernesto Geisel em diversas dependências públicas. A abordagem indireta contrasta com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, filme de 2024 que tratou o tema de forma explícita e conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional para o Brasil.
Assinatura autoral permanece
Kleber sustenta a atmosfera de inquietação apresentada anteriormente em “O Som ao Redor” e “Bacurau”. Com forte domínio de gêneros e referências cinematográficas, o realizador recorre a armadilhas narrativas que envolvem o espectador do início ao fim. Críticos comparam sua relação de devoção à história do cinema à de Quentin Tarantino, embora o diretor brasileiro mantenha um estilo próprio.
Aventura brasileira e memória coletiva
Descrito pelo próprio cineasta como “uma aventura brasileira”, o filme dialoga com a memória nacional ao conectar o passado e o presente. Fitas cassete, telefones celulares e telas de computador dividem o mesmo plano, sublinhando a relação entre diferentes épocas. A cena da menina atropelada por um ônibus na ficção remete, por exemplo, a um acidente real envolvendo um menino que caiu de um edifício no Recife.
Referências locais reforçam a ambição universal da obra, sintetizada no antigo slogan radiofônico “Pernambuco falando para o mundo”. Ao refletir sobre desigualdades e impasses políticos persistentes, “O Agente Secreto” se consolida como mais um título que provoca reflexões prolongadas no público.
Com informações de Jornaldaparaiba




