A cineasta mineira Petra Costa, 42 anos, apresenta o documentário “Apocalipse nos Trópicos”, obra que dá continuidade à narrativa política iniciada em “Democracia em Vertigem” (2019). Com estreia em 2025, o novo filme investiga o cenário brasileiro pós-impeachment de Dilma Rousseff, acompanhando figuras centrais como o presidente Lula e o pastor Silas Malafaia.

Contraponto entre Lula e Malafaia

Entre os destaques, a produção mostra Lula tomando café da manhã ao lado da primeira-dama Janja. Na cena, o petista afirma que trabalhadores desempregados encontram acolhimento nas igrejas evangélicas, espaço que, segundo ele, sindicatos e paróquias católicas deixaram de oferecer. O ex-presidente também avalia que o socialismo “fracassou porque não soube dialogar com as religiões”, declaração considerada no filme como uma das passagens mais lúcidas.

No extremo oposto, Petra Costa acompanha de perto Silas Malafaia. O pastor surge em registro de 2018, durante a campanha eleitoral, declarando: “Deus escolheu as coisas loucas, escolheu as coisas fracas, escolheu as coisas desprezíveis, por isso ele escolheu você, Bolsonaro!”. A agressividade atribuída ao líder religioso contrasta com o tom reflexivo adotado por Lula.

Legado de “Democracia em Vertigem”

Lançado em 2019, “Democracia em Vertigem” foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário no ano seguinte e retratou a deposição de Dilma Rousseff. À época, Petra registrou a prisão de Lula e a ascensão de Jair Bolsonaro, cenário descrito como essencial para compreender a trajetória da democracia brasileira.

Agora, “Apocalipse nos Trópicos” aprofunda essa análise. Produzido, assim como o antecessor, em primeira pessoa e sem pretensão de imparcialidade, o longa assume explicitamente o ponto de vista da diretora. Essa postura, segundo o próprio roteiro, segue a tradição de obras como Corações e Mentes (Peter Davis), Jango (Sílvio Tendler) e Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho), que também adotam recortes assumidamente parciais.

Repercussão e contexto político

A dupla de filmes é vista como retrato de momentos-chave da política nacional. O primeiro foi assistido no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, antes da pandemia de Covid-19; o segundo chega ao público no penúltimo ano do terceiro mandato de Lula. O texto que apresenta a produção aponta, inclusive, o desejo de que o campo democrático construa novas candidaturas para além do petista, apesar de reconhecer a clareza de suas declarações sobre religião e trabalho.

Com poucos deslizes e várias virtudes apontadas pelo próprio material de divulgação, “Democracia em Vertigem” e “Apocalipse nos Trópicos” formam, segundo a análise publicada, um conjunto indispensável para compreender a cena política brasileira dos últimos anos.

Com informações de Jornaldaparaiba