João Pessoa — Três construções destinadas à educação infantil permanecem paralisadas na Paraíba e somam perda estimada em R$ 1.925.000, de acordo com auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PB). As obras, localizadas em Juárez Távora, Poço de José de Moura e Remígio, fazem parte da terceira temporada da série “Obras Inacabadas”, exibida pelo telejornal JPB2.

Juárez Távora: 95% do valor pago, mas salas sem piso

A 90 km da capital, o prédio que deveria atender 50 crianças começou a ser erguido em 2022 com orçamento inicial de R$ 634 mil. Um aditivo elevou o contrato para R$ 880 mil, e os registros do painel do TCE indicam desembolso de R$ 845 mil — 95% do total. Mesmo assim, a creche está cercada por mato, sem portas nem piso e instalada em terreno baixo, exposto a esgoto a céu aberto. Após vistoria, técnicos do tribunal apontaram risco de desabamento da laje e recomendaram envio do relatório ao Ministério Público.

Segundo a secretaria municipal de Educação, os trabalhos foram suspensos por causa das falhas estruturais. Moradores relatam que, sem o equipamento, mães precisam deslocar os filhos para bairros distantes ou permanecer em casa, comprometendo a renda familiar.

Poço de José de Moura: apenas 27% concluídos

No Alto Sertão, a 490 km de João Pessoa, outra creche deveria ter sido entregue em 2023. Dos R$ 608 mil repassados pelo governo estadual, R$ 260 mil já foram executados, mas apenas 27% do cronograma foi concluído. A construção está parada desde novembro de 2024, último mês da gestão anterior. A atual prefeitura afirma ter realizado nova licitação e calcula que serão necessários mais R$ 1,2 milhão — montante 30% superior ao orçamento original — para finalizar o prédio.

Remígio: estrutura depredada e materiais furtados

No Brejo paraibano, a creche de Remígio começou a ser construída em dezembro de 2021, com previsão de entrega para 2025. Já em janeiro daquele ano, entretanto, o local apresentava sinais de abandono. Vidros quebrados, fios elétricos arrancados e esquadrias furtadas caracterizam o cenário atual. Dos R$ 1,3 milhão previstos, R$ 820 mil (cerca de 60%) foram gastos, enquanto o Estado repassou R$ 1,1 milhão ao município. Conforme a administração municipal, impedimentos na prestação de contas da primeira parcela travam a retomada das obras.

Moradores denunciam que o espaço se transformou em abrigo para cães abandonados. Para a operadora de caixa Elizangela de Brito, a conclusão do prédio facilitaria a rotina das famílias do bairro. A aposentada Josefa da Silva critica o desperdício: “Pagamos imposto direitinho e teremos de pagar de novo”.

Impacto social e administrativo

O secretário estadual de Educação, Wilson Filho, explicou que o Programa Primeira Infância, iniciado em 2021, viabiliza recursos para as prefeituras, mesmo sem obrigação constitucional do Estado. Segundo ele, 70 creches foram entregues e mais de 210 convênios assinados. O relatório do TCE, porém, aponta que, devido às paralisações, 11.800 crianças continuam sem acesso ao serviço público.

O auditor do TCE Júlio Uchôa ressalta que o prejuízo vai além da área financeira, pois afeta diretamente o desenvolvimento infantil e a rotina das famílias.

Com informações de G1